No dia 01 de Junho parti rumo as tão desejosas férias. Metade programadas para a Serra, incluído a prova OMD, e metade programadas para a Praia :) Perfeito. Iamos aproveitar a semana na Serra para passear e para nos habituarmos a altitude. Ficamos instalados na Pousada da Juventude das Penhas da Saúde, a 1400 m de altitude e começamos o passeio. Conheço pouco da Serra da Estrela e por isso lá seguimos para o Xico me mostrar alguns sítios interessantes. Fomos a Belmonte e demos um salto a Torre para ver como estava o ambiente. Da última vez que estive na Serra foi impossível subir a Torre por causa do tempo mas desta vez consegui finalmente chegar ao Ponto mais alto de Portugal Continental.
Nesta foto consegue ver-se a Garganta da Loriga local por
onde passariam os participantes dos K70, K100 e 100 Milhas. Da torre não dá
para ter a percepção do local. Só tive consciência da grandeza do sítio uns
dias depois quando fui até Loriga.
No dia seguinte fizemos o primeiro treino suave na Serra. O
Xico não se queria cansar muito uma vez que iria fazer a sua primeira prova na
distância de K70. Queríamos fazer uma caminhada dos Piornos até a Varanda dos Pastores,
que é um miradouro natural sobre a Cova da Beira. Quem já visitou sabe como a
vista de lá é maravilhosa mas para mim teve de ficar para outra vez. É que o
percurso pedestre até lá não está devidamente assinalado e deixamos de ver
trilhos e mariolas. Ainda tentamos continuar por nossa conta uma vez que o Xico
conhecia o local mas tivemos de desistir uma vez que começamos a enfiar os pés
em vegetação que parecia seca e fofa mas que por baixo tinha água gélida, ainda
restos do gelo recém derretido. Optamos por voltar para trás mas não resisti a
transformar a caminhada numa corrida de regresso ao ponto de partida para ver
como o meu corpo reagia a altitude em esforço.E de facto é diferente.
No dia seguinte resolvemos ir até Piódão, uma aldeia
histórica, muito bonita, mas para chegar da Covilhã lá demora-se uma eternidade
porque a estrada cheia de curvas passa por um sem fim de terras com 2 ou 3
casas. Nesse passeio tivemos obrigatoriamente de passar pela Torre e ai
começamos a tomar consciência do que se aproximava… Vimos a primeira bandeira
que assinalava a passagem do OMD…
Torre |
A partir desse momento em quase todas as localidades onde
passávamos encontrávamos fitas de marcação de percurso. Estavam a seguir-nos…
Ou seriamos nos que estávamos a ser atraídas para elas?? O que é certo é que
senti alguma inveja por saber que a minha prova infelizmente não iria passar
por esses locais magníficos. O que estava programado é que a prova de K20 seria
um percurso maioritariamente em estradão desde Gouveia a Seia pelo que não
passaria por nenhum dos sítios onde avistei as fitas…
Nesse dia ainda houve tempo para um treino leve das Penhas
da Saúde até aos Piornos com cerca de 200m D+ em mais ou menos 2 Km. Estava
muito vento e muito frio.
Tinha ouvido que o tempo iria piorar na sexta-feira e fiquei
um pouco preocupada uma vez que o mau tempo poderia ser prejudicial a prova
tendo em conta a instabilidade que se poderia encontrar na Torre. A preocupação
não era comigo mas por todos aqueles que iam iniciar a prova as 16h de sexta
(100 Milhas) e 00h de sábado (100 Km).
Nesse dia resolvemos ir a Unhais da Serra ao Medical Spa do
H2otel para relaxar. Mal acordamos e abrimos a cortina vimos que estava um
nevoeiro cerrado. Não se via um palmo a frente do nariz. Pensei positivamente
que pela tarde o nevoeiro levantaria e ficaria um sol radioso. Aproveitamos o
Aquadome (o Spa) durante toda a manhã e almoçamos também em Unhais mas o tempo
não parecia melhorar. Pese embora o nevoeiro tivesse levantado uma chuva
miudinha parecia instalar-se. E de facto foi isso que aconteceu. A chuva não
parou até de noite. Fui sabendo notícias da prova pelo Facebook do evento e
percebi que quem tinha chegado primeiro a Loriga tinha sido o Luís Mota e a
seguir o brasileiro Oraldo Romualdo. A partir dessa notícia não consegui saber
mais nada. Só esperava que tudo corresse pelo melhor a todos os participantes. Dormi
bastante mal com pensamentos sobre o que poderia estar a acontecer aos atletas
que já tinham iniciado a prova e com o barulho assustador do vento.
Tivemos de acordar bastante cedo no sábado porque o nevoeiro
continuava e tínhamos de fazer a viagem Penhas da Saúde – Seia passando pela
Torre. Quando chegamos a Seia os atletas dos K70 começaram a
preparar-se para a partida e a receber as últimas recomendações da Organização.
Ficamos a saber que entre a Garganta de Loriga e a Torre se tinham atingido
temperaturas bastante baixas que tinham feito alguns estragos. Soubemos que o
Luis Mota tinha entrado em situação de hipotermia e que teriam demorado cerca
de meia hora para conseguir repor a sua temperatura corporal. No final acabei
por saber que teria desistido ao Km 116 devido as mazelas causadas por esta
situação extrema. Fiquei logo com nervoso miudinho… Lá partiram e vi o Xico e o
amigo Luzio a seguir viagem para o desconhecido. Não sei explicar porquê mas
continuei a sentir aquela dor de cotovelo. Não deveria ser muito normal tendo em
conta o facto de ter acabado de ter conhecimento das condições adversas pelas
quais iriam passar, já para não falar dos Km… Serei doida??
Desanimada lá fui levantar o dorsal da minha prova sabendo a
partida que não teria nem metade da beleza paisagística daquela
pela qual os outros participantes das outras distancias passariam. A hora
marcada seguimos de autocarro ate Gouveia para o local da partida. Um elemento
da Organização aproveitou o caminho para nos dar umas luzes do percurso. Resumidamente
disse o seguinte: “A prova começa a subir, a subir e continua a subir e quando
vocês pensarem que já não vão subir mais voltam a subir…”. Ora que bem. Eu que
tinha pensado que as oscilações não seriam
muitas… Afinal sempre vai haver alguma emoção. Mas o melhor/pior ainda estava
para vir… Obtivemos mais uma informação de última hora: iríamos sair de Gouveia
com uma atleta-guia que nos iria levar ate a primeira fita. A corneta soou e lá
fomos. O que não imaginei é que esse percurso entre o centro de Gouveia e a 1ª
fita com cerca de 3 Km seria percorrido a velocidade supersónica pela
atleta-guia através de uma pista de Downhill. Ok fixe! Não pensei foi que fosse numa pista de “Uphill”.
Caneco… Só para terem uma ideia o meu
Km2 foi o pior de toda a prova…
Este pormenor estragou os meus planos por completo. Tinha
decidido apenas encher a mochila com água no primeiro abastecimento,que pelas
indicações seria ao Km4. Só que o Km 4 efectivo de prova não coincidia com o
Km4 de corrida. Que sede… Ainda bem que dei com o abastecimento, coisa que não
aconteceu a muita gente, senão tinha de bater a porta de alguém para pedir
agua. Chegada ao abastecimento o senhor olha para mim e diz: “É a primeira!!!”.
Como assim?? Os outros participantes já nem se viam no horizonte!!! O senhor
devia estar confuso… Mas continuava a insistir… Sim é a “Primeira pessoa a
passar neste abastecimento…, é dos 100 Km, não é?” pergunta o senhor. Ao que
respondo prontamente que não. Parece que NINGUÉM tinha passado no abastecimento
porque ninguém o viu… Lá atestei a mochila e segui viagem. Começo a tentar
beber a agua da mochila e novo problema surge… A agua não saia… A pipeta estava
aberta mas a agua não havia meio de sair… Não acredito… Tive de ir abrindo a
mochila e vazando a agua para o bidon a medida que a agua acabava. Ainda encontrei o Jorge que me disse que era azelhice minha mas o que é certo é que continuou a não sair agua. A prova
estava a correr bem, sentia-me bem, não me doía nada, só o raio da água para me
atormentar.
O abastecimento seguinte ainda era distante. Seria só aos 17
Km mas como íamos com a diferença de cerca de 3 Km só apareceu mais tarde. Como
não tinha agua suficiente não consegui comer nenhuma barra de marmelada que
tinha mas também não tinha vontade.
Tal como previa não passei por nenhuma paisagem de cortar a
respiração mas adorei a experiência de correr no meio de um rebanho de cabras.
Ia eu a subir uma “paredezita” quando reparo que vinha uma pessoa atrás de mim
com quem eu não me tinha cruzado em todo o percurso. Era o 1ª atleta dos 100 Km que vinha fresco que nem uma alface. Perguntou-me se estava
tudo bem e eu fiquei surpreendida porque não estava a espera de ser
ultrapassada por um atleta dos K100. Ele lá seguiu e passado uns minutos deixei
de o ver.
Continuei no meu ritmo. O percurso tinha vários tipos de
terreno: estradão, pedra roliça e pinhal. Para mim o pior é a pedra roliça nas
descidas. Tendo em conta a tendência para por os pés de lado é sempre a parte
que menos gosto. Mas desta vez nem correu mal já que não cai…
Chego ao abastecimento de Povoa Velha e sei que já falta
pouco para Seia. Comi uns gomos de laranja e segui. Cheguei ao que seria a
última e derradeira subida. Uma estrada de pedra em paralelos que foi
impossível de correr. Lá cheguei a Seia sem nenhuma maleita e passei a meta com
3:59h para cerca de 26 Km. Pensei que até tinha sido bom e tinha melhorado
tendo em conta que para os 21 Km em Sesimbra tinha demorado 3:50h. Recebi a
medalha e fui logo atacar a agua e mais uns gomos de laranja. Sabia que ainda
tinha de esperar pela Cláudia que tinha ficado com a chave do carro para irmos
tomar banho e esperar lavadinhas pelos atletas K70. Enquanto esperava e em
conversa com a rapariga que tinha ficado a primeiro lugar ela disse-me: “Se
calhar ainda vais ao pódio acho que foste a 2ª ou 3ª a chegar.” O QUÊ?? PÓDIO??
Naaaa. Deve haver alguma confusão. Até que as tantas confirmo que fui a 3ª
mulher a chegar e como tal teria o direito a subir ao pódio para receber o
troféu. E AGORA??? Chego ao pódio e não tenho ninguém a assistir??? A Cláudia
ainda não tinha chegado e o Xico e o Luzio nem pensar. Lá fui sozinha recolher
o meu prémio. E digam lá que não era espectacular…
A minha "taça" |
Pódio K25 (Presidente da Câmara Municipal de Seia, 1ª Classificada Vera Vaz, Elemento da Organização, Eu) Faltou a 2ª Classificada Helena Rodrigues |
Como é óbvio fui logo confrontada com perguntas do género: “
Foste a 3ª? Quantas havia em prova? 3?” Bem o que é facto é que eramos mesmo
muito poucas mulheres (penso que 7) mas não tenho culpa de não haver mais mulheres a
participar nesta prova. Percebo que para muitos este simples prémio não vale de
nada mas para mim serviu para me motivar e ajudar a continuar. Vou continuar a
treinar e vou conseguir atingir os meus objectivos e quem sabe se para o ano
conseguirei chegar lá acima.
Queria deixar uma palavra de agradecimento a Horizontes,
pela organização 5 estrelas e pela constante preocupação para que tudo corresse
bem.
Aos atletas que acabaram qualquer das provas mais longas os
meus parabéns. Vocês são os verdadeiros campeões. Parabéns também ao Xico (o
meu herói) e ao Luzio por terem conseguido acabar a vossa prova de K70,
distancia que percorreram pela 1ª vez, sãos e salvos.
Muitos parabéns, o trofeu é a cereja no topo do bolo. Com trabalho e dedicação tudo é possivel.
ResponderEliminarForça Power Puff Runner
Obrigado :) Vou continuar a esforçar-me.
EliminarMuitos parabéns Inês! Fiquei muito feliz quando soube que tinhas sido a 3ª com direito a pódio! O facto de serem poucas só atesta a dificuldade da prova o que ainda mais valor dá ao teu feito.
ResponderEliminarE que bonito e original troféu!!!
Beijinhos e, novamente, PARABÉNS! :)))
João, muito obrigado. Talvez o facto de ser longe tenha afastado algumas pessoas e o nome da prova também assusta um pouco :) Os troféus foram feitos pela Casa Santa Isabel - Instituto de Pedagogia Curativa e Socioterapia! Estes troféus especiais são feitos pelos utentes desta comunidade! É espectacular!!
EliminarBeijinhos
Muitos parabéns pela excelente classificação e respectivo pódio! Espero que seja o primeiro de muitos. Como eram os abastecimentos? E na prova k70?
ResponderEliminarOla Silvio. Muito Obrigado. Nunca me passou pela cabeça chegar ao pódio. Vou continuar a trabalhar e quem sabe um dia voltarei a subir a algum :). Os abastecimentos eram muito bons em todas as provas. A única coisa menos positiva a assinalar foi o 1ª abastecimento do K25 estar pouco visível. Só para teres uma ideia quase ninguém do K25 lá foi. Se quiseres saber alguns pormenores sobre a prova K70 podes ver o Blog xicodaboina.blogspot.pt ou o www.desedentarioamaratonista.com.
EliminarBeijinhos
Epa que relato enorme e espectacular.
ResponderEliminarLi hipotermia e fiquei logo em choque, já tinha ouvido falar da prova e que até alteraram a data da mesma exactamente por motivos desses que eram mais prováveis de acontecer.
O meu pai é dessa zona, por isso Seia, Serra da Estrela e por ai conheço e sei das paisagens espectaculares, assim como o Piodão, que adoro, acho as casas, a "aldeia" tem todo um ar rústico e amoroso.
A cena da água foi um tanto manhosa...?!
3º lugar entre 7 mulheres?!! E daí? É pódio, é pódio!!! Parabéns!!
Beijinhos ;)
Obrigada. É verdade essa questão das condições climatéricas extremas é o que faz muita gente não por lá os pés... É uma zona linda e de cada vez que lá vou fico a gostar mais. A cena da agua foi o tubo que entupiu não sei bem porquê uma vez que nunca lá usei mais nada a não ser agua...
EliminarÉ verdade este já ninguém mo tira :)
Beijinhos
Parabéns Inês!
ResponderEliminarAgora até já vais ao pódio :)
Beijinhos
Obrigado Vitor :) Parece que sim!! Hehe.
ResponderEliminarBeijinhos
Parabéns pelo pódio, o Prémio é lindo :), mas em especial pela prova, e sem torcer nenhum tornozelo!!!
ResponderEliminarBjs