Ontem foi dia do tão aguardado Trail Sintra Monte da Lua. A
distância escolhida foi de 25 Km que é a distância que ultimamente tenho feito
nas provas de trail em que tenho participado.
Na sexta-feira fui levantar os dorsais a Quinta da Regaleira.
Só me lembro de la ter ido uma vez numa visita de estudo do Liceu mas não me
lembrava de rigorosamente nada. Para
ser sincera sou uma daquelas pessoas que não aprecia muito o ambiente sombrio
de Sintra. Quase toda a gente acha aquela envolvência deslumbrante e
enigmática. Mas eu não consigo achar grande piada, o que é mau, porque é um
sitio excelente para treinar.
O dia acordou farrusco e com alguns chuviscos a mistura
fazendo ter uma série de indecisões: meias curtas ou compridas, mochila de 2 L
ou de 1L, sapatilhas de Trail mais leves ou mais robustas, impermeável ou não…
As escolhas foram meias compridas (e ainda bem), mochila de 1 L (Erro. Devia ter
levado de 2L), sapatilhas de Trail robustas Asics Fujitrabuco (graças a deus),
impermeável (perfeitamente dispensável).
Assim que cheguei a Praia das Maças caiu um aguaceiro que
logo passou. Ainda assisti a partida dos 50K e logo de seguida fomos ouvir o briefing
da prova dos 25K. Não consegui perceber nem ouvir nada, só qualquer coisa sobre
não espreitar para ver as vistas junto às arribas porque podíamos vir parar cá
abaixo e cuidado com um vespeiro que estaria não sei bem onde, blablabla, pela esquerda.
Tiro de partida dado lá seguimos pela areia. Apenas uns
quantos metros e foi o suficiente para activar a minha fasceite plantar
semi-adormecida. Auch… Seguimos
afastando-nos da praia e nem passados 2
Km, engarrafamento… Para terem uma ideia do mesmo demorei 40 min para fazer os
primeiros 2 Km. Fiquei parada imenso tempo numa fila para passar um mini riacho
com uma corda para trepar. Fiquei logo chateada. Ficar parada ali durante
tantos minutos quebrou completamente o ritmo. Nada a fazer. Depois de
ultrapassado o obstáculo siga para bingo.
Passagem por Colares e um pouco mais a frente inicia-se a
subida da pista de downhill. Mais um vez, e a semelhança da prova do Oh Meus
Deus, esta organização resolveu por o pessoal a subir aquilo que é suposto ser
a descer. Mas tudo bem. Chega o único abastecimento sólido no Monge aos cerca
de 10 Km. Atestei com agua, porque bebi toda a que tinha na mochila, comi fruta
e segui rumo as “pintas” laranja marcadas na floresta. Após este abastecimento
percebi que haviam 3 marcas a laranjas. Duas cruzes a dar indicação que não era
para ali o caminho e umas pintas laranjas. Segui as pintas como era suposto mas
reparei que as marcações eram escassas numa zona de parque de merendas. Quando
a zona de merendas acabou la continuavam as pintas o que significava que não me
tinha enganado. Depois de ter feito o percurso do abastecimento ao inicio das
arribas apercebo-me que as pessoas que estavam a chegar ao abastecimento quando
de lá sai estavam agora a minha frente nas arribas e com uma distancia bastante
considerável de mim. Eu ainda nem tinha começado a descer e já iam a começar a
subir a primeira arriba. Possa como é que é possível? Não passaram por mim… Não
sei se fui eu que me enganei ou se foram eles que atalharam mas fiquei um
bocado irritada com isto.
A zona das arribas foi para mim o pior… A descer era um suplício
porque os pés escorregavam constantemente nas pedras soltas fazendo dar algumas
patinadelas perigosas. Depois desses sustos resolvi optar por uma técnica de sku
em algumas descidas mais ingremes. Quase que fiquei sem calções e com as
nádegas ao léu… E depois de uma bela descida perigosa uma subida ingreme ao
género de escalada. Um pé em falso e lá íamos por ali abaixo. De facto a paisagem
era espectacular mas nem consegui apreciar muito bem tal era a vontade imensa
que aquela série de descidas e subidas em pedra acabasse. Nesse percurso até ao
Cabo da Roca ajudei uma rapariga que tinha ficado sem agua tendo-lhe dado o meu
barril e um rapaz que não se estava a sentir muito bem e a precisar de açúcar e
força para chegar lá acima. Era incapaz de deixar alguém numa situação
complicada ali sozinho ainda por cima sabendo que não havia ninguém da
organização nem nenhum bombeiro neste percurso. Grande falha. Achei aquela zona
bastante perigosa. Se calhar sou eu que sou mariquinhas mas tive algum medo
especialmente nas descidas. Deveria haver alguém a dar apoio e alerta para
alguma eventualidade.
Quando cheguei ao Cabo da Roca já estava em desespero. Já
não tinha água outra vez. Encheram-me novamente a mochila e pensei que já
faltaria pouco. Agora seria sempre a aviar. O rapaz que estava no abastecimento
disse-me delicadamente: “Não se quer lavar??”. “Quem eu?”. Ai apercebi-me que
estava imunda e toda farruscada. Uma mistura de pó com água fazia parecer que
tinha andado a limpar chaminés. Achei que não havia grande necessidade. Lavei
apenas as mãos e decidi seguir. O pior é que a minha consciência fez com que
não abandonasse esses dois companheiros estreantes no trail e nada preparados sozinhos.
E assim foi. Sempre que tentava impor algum ritmo de corrida rapidamente tinha
de abrandar porque eles já não conseguiam mais. Até me senti um bocado culpada
porque num troço cheio de pedras irregulares comecei a correr e a rapariga que
seguia atras de mim caiu de cara batendo com o peito numa série de pedras. A
partir daí decidi não os largar mais até a Praia das Maçãs.
Demorei 6:33 a fazer cerca de 27 Km. Nunca fiz um tempo tão
mau num trail. No final tinha um misto de sensações. Estava um pouco triste por
ser uma das últimas a chegar. Porque é que não fui mais egoísta e fiz a minha
prova em vez da dos outros? Não sei… Mas não era capaz de não ajudar quem
estivesse em dificuldades. Por outro lado o facto de ter aguentado estas horas
todas em prova e no final ainda me sentir bem o suficiente para poder continuar
por mais algum tempo, foi um ponto positivo.
Acho que vou demorar a digerir esta prova…
Esta foi a única foto possível:
Nunca se é o último. Há sempre os milhares que não tiveram a coragem que tu tiveste de participar :)
ResponderEliminarBeijinhos e boa continuação
Eu cheguei umas duas horinhas depois depois de escalar as arribas...
ResponderEliminarE não chegaste sozinha;)
ResponderEliminarIsso também conta.
Bjs
Fizeste bem em ficar com esses atletas. O mais importante na corrida não é a posição em que chegamos, mas as sensações que vivemos, o convívio e neste caso as pessoas que ajudamos. Estás de parabéns por mais uma prova completada!
ResponderEliminarBeijinhos
Ultima? Não te esqueças das pessoas que ficaram em casa com as suas vidas sedentárias!! :-P
ResponderEliminarGostei do relato! E tenho muita pena de não ter participado nesta prova (50k), mas fica para o ano...
Beijinho e boas corridas! :-)
Queres melhor e mais dura vitória que chegares ao fim? *
ResponderEliminarMuitos parabéns pela prova, que foi bastante dificil e principalmente pela execelente atitude. Exemplo do que ha de melhor no trail, ajuda e companheirismo.
ResponderEliminarBons treinos.